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O Brasil no Centro do Debate Climático Global

Em novembro de 2025, todas as atenções do mundo estarão voltadas para Belém do Pará, quando a cidade amazônica sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-30).
 
Este evento histórico não representa apenas uma oportunidade diplomática para o Brasil, mas está se tornando um poderoso catalisador para a aceleração da agenda ESG no Brasil, especialmente no ambiente corporativo. A proximidade da COP-30 está provocando uma mobilização por práticas ambientais, sociais e de governança mais robustas, transparentes e mensuráveis.
 
Como destacamos em nosso artigo sobre A Revolução Silenciosa dos Agentes de IA, a tecnologia está transformando diversos setores, incluindo a sustentabilidade. Agora, com a COP-30 impulsionando a agenda ESG brasileira, empresas de todos os setores estão intensificando seus esforços para transformar compromissos em ações concretas antes do evento global.

A COP-30 como Catalisador para a Transformação Corporativa

O Efeito Holofote nas Empresas Brasileiras

A realização da COP-30 em Belém está criando um efeito holofote sem precedentes sobre as práticas ESG das empresas brasileiras. Segundo o Relatório de Tendências ESG 2023 da KPMG, eventos climáticos globais como as COPs têm impacto significativo nas estratégias corporativas, com 82% das empresas brasileiras pesquisadas indicando que planejam aumentar seus investimentos em iniciativas ESG nos próximos anos.
 
Este movimento não se restringe apenas às grandes corporações. Pequenas e médias empresas também estão sendo impactadas, à medida que cadeias de suprimento inteiras precisam se adequar a critérios mais rigorosos de sustentabilidade.
 
As conferências climáticas funcionam como marcos importantes para o avanço da agenda de sustentabilidade, explica Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). A COP-30 no Brasil representa uma oportunidade única para as empresas brasileiras demonstrarem seu compromisso com práticas sustentáveis.

De Promessas a Ações Concretas

O que diferencia este momento é a transição de promessas e compromissos para ações mensuráveis e verificáveis. Com a COP-30 acelerando a agenda ESG no Brasil, observamos:
  • Metas com prazos definidos: Empresas estão estabelecendo compromissos com datas específicas, muitas delas alinhadas com o evento em Belém
  • Investimentos direcionados: Aumento em capital destinado a projetos de descarbonização e impacto social
  • Transparência ampliada: Maior disposição para divulgar dados como parte de uma jornada de melhoria contínua
“As empresas estão entendendo que não basta ter uma política ESG no papel”, afirma Sonia Favaretto, presidente do Conselho Consultivo da B3 em Sustentabilidade. “É necessário demonstrar resultados concretos, e a COP-30 está servindo como um catalisador para essa mudança de mentalidade.”

Os Principais Impactos da COP-30 na Agenda ESG Brasileira

1. Antecipação de Relatórios com Padrões Internacionais

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) definiu, através da Resolução CVM nº 193/2023, que as empresas de capital aberto precisarão publicar relatórios de sustentabilidade com padrões internacionais a partir do exercício de 2026. No entanto, a proximidade da COP-30 está levando muitas companhias a se adiantarem.
 
Segundo o Estudo de Relato de Sustentabilidade da KPMG 2022, o Brasil já apresenta um índice de 85% de relato de sustentabilidade entre as 100 maiores empresas do país, acima da média global de 79%. Esta tendência deve se intensificar com a aproximação da conferência.
 
“O Brasil está se direcionando gradualmente para um maior alinhamento com padrões internacionais de transparência”, ressalta Lígia Maura Costa, coordenadora do Centro de Estudos em Ética, Transparência, Integridade e Compliance da FGV (FGVethics). “A tendência é a de que o reporte de métricas ESG se torne mais comparável e sistemático, fortalecendo a transparência.”

2. Desenvolvimento Acelerado do Mercado de Carbono

O ano de 2024 foi marcado pela aprovação da Lei nº 14.119/2021, que estabeleceu a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais, e pela discussão do Projeto de Lei 528/2021, que visa regulamentar o mercado de carbono brasileiro. Com a aproximação da COP-30, a implementação prática desses mecanismos está ganhando urgência.
 
De acordo com o Relatório Estado do Mercado Voluntário de Carbono 2023, o Brasil é um dos países com maior potencial para geração de créditos de carbono de alta qualidade, especialmente relacionados à conservação florestal e agricultura de baixo carbono.
 
“O ano de 2025 está sendo crucial para a estruturação do mercado de carbono brasileiro”, comenta Gustavo Pinheiro, coordenador do portfólio de Economia de Baixo Carbono do Instituto Clima e Sociedade (iCS). “A proximidade da COP-30 está acelerando discussões que poderiam levar anos para avançar.”

3. ESG como Diferencial Competitivo em Fusões e Aquisições

Com perspectivas de fortalecimento de fusões e aquisições em 2025, a estratégia de maior foco em sustentabilidade está se tornando um diferencial competitivo no fechamento de negócios, especialmente com a COP-30 no horizonte.
 
Segundo o Relatório Global de M&A da Deloitte 2023, fatores ESG estão se tornando cada vez mais importantes nas avaliações de due diligence, com 60% dos executivos globais considerando esses critérios em suas decisões de investimento.
 
“As transações não são mais baseadas apenas em métricas financeiras, mas também no alinhamento da empresa-alvo com as expectativas de sustentabilidade”, observa André Vasconcellos, vice-presidente do conselho de administração do IBRI. “Isso pode ser um diferencial competitivo no mercado e um mitigador de riscos, inclusive reputacionais.”

4. Uso Estratégico da IA para Governança e Monitoramento Ambiental

A inteligência artificial está se tornando uma aliada fundamental para empresas que desejam fortalecer suas práticas ESG antes da COP-30. De acordo com a Pesquisa Global de IA da IBM 2023, 42% das empresas já estão utilizando IA para melhorar a sustentabilidade e o impacto ambiental.
 
“Os investidores estão exigindo um nível mais profundo de due diligence de ESG, utilizando dados e tecnologias para medir e avaliar o impacto das empresas”, diz Renato Eid Tucci, Head de ESG da XP Inc.
 
Soluções baseadas em big data, IA e blockchain estão sendo cada vez mais utilizadas para:
  • Monitorar em tempo real o impacto ambiental de operações
  • Rastrear cadeias de suprimentos para garantir práticas sustentáveis
  • Prever e mitigar riscos climáticos
  • Automatizar a coleta e análise de dados para relatórios ESG

5. Maior Vigilância contra Práticas de Greenwashing

Com os olhos do mundo voltados para o Brasil durante a COP-30, as empresas estão sob escrutínio intensificado quanto à autenticidade de suas práticas ESG. A pressão contra o greenwashing (falsas alegações ambientais) e outras formas de “washing” nunca foi tão forte.
 
Segundo o Relatório de Tendências de Consumo Consciente 2023 do Instituto Akatu, 67% dos consumidores brasileiros afirmam verificar se as empresas realmente cumprem o que prometem em termos de sustentabilidade, um aumento de 12 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior.
 
“Com a COP-30, as empresas precisarão ir além dos discursos, demonstrando compromissos concretos com práticas sustentáveis e transparentes”, afirma Pedro Luiz Côrtes, professor da USP e especialista em sustentabilidade. “Transparência será essencial para atrair talentos, consumidores e investidores.”

Como Empresas Brasileiras Estão se Preparando para a COP-30

Casos de Sucesso e Iniciativas Inspiradoras

Diversas empresas brasileiras já estão implementando estratégias inovadoras para fortalecer suas credenciais ESG antes da COP-30. Alguns exemplos notáveis:

Natura &Co: Liderança em Bioeconomia Amazônica

A Natura intensificou seu programa de bioeconomia amazônica, que já beneficia milhares de famílias na região. De acordo com seu Relatório Anual 2023, a empresa está expandindo suas parcerias com comunidades locais e investindo em pesquisa e desenvolvimento de ingredientes sustentáveis da biodiversidade amazônica.
 
“Queremos mostrar ao mundo durante a COP-30 que é possível conciliar desenvolvimento econômico com preservação ambiental e inclusão social”, afirma João Paulo Ferreira, CEO da Natura &Co América Latina.

Vale: Mineração Sustentável e Restauração Florestal

A Vale acelerou seus compromissos de neutralidade de carbono, conforme detalhado em seu Relatório de Sustentabilidade 2023. A empresa está investindo em tecnologias de mineração de baixo impacto e ampliando seu programa de restauração florestal.
 
“Estamos transformando nossa forma de operar, com foco em minimizar impactos ambientais e maximizar benefícios sociais”, explica Eduardo Bartolomeo, CEO da Vale.

Estratégias para Pequenas e Médias Empresas

Não são apenas as grandes corporações que estão se mobilizando para a COP-30. Pequenas e médias empresas também estão encontrando formas de fortalecer suas práticas ESG:
  • Certificações acessíveis: Busca por certificações como B Corp, que são reconhecidas internacionalmente mas acessíveis para empresas menores
  • Parcerias locais: Colaboração com comunidades e ONGs para desenvolver projetos de impacto social e ambiental
  • Digitalização de processos: Adoção de ferramentas digitais para reduzir consumo de papel e otimizar recursos
  • Economia circular: Implementação de práticas de reuso, reciclagem e redução de desperdício
Segundo o Relatório Sebrae 2023 sobre Pequenos Negócios e Sustentabilidade, 58% das PMEs brasileiras já adotam alguma prática sustentável, e esse número tende a crescer com a aproximação da COP-30.
 
“A COP-30 está criando um efeito cascata que chega até as pequenas empresas”, observa Luiz Pires, diretor do Sebrae Pará. “Muitas estão percebendo que práticas sustentáveis não são apenas boas para o planeta, mas também para o negócio.”

O Legado da COP-30 para a Agenda ESG Brasileira

Além do Evento: Transformações Duradouras

O impacto da COP-30 na agenda ESG do Brasil promete ir muito além dos dias do evento. Especialistas apontam para transformações estruturais que devem permanecer e se fortalecer:

Institucionalização de Práticas ESG

A pressão gerada pela conferência está levando à institucionalização de práticas que antes eram consideradas opcionais ou acessórias. Comitês ESG, diretorias de sustentabilidade e políticas formais de impacto socioambiental estão se tornando padrão em empresas de diversos portes e setores.
 
De acordo com a Pesquisa KPMG Board Leadership Center 2023, 76% dos conselhos de administração brasileiros já discutem regularmente temas ESG em suas reuniões, um aumento de 23 pontos percentuais em relação a 2020.
 
“O que estamos vendo é uma mudança cultural profunda”, analisa Ana Buchaim, Diretora de Pessoas, Marketing, Comunicação e Sustentabilidade da B3. “A COP-30 está servindo como catalisador para que práticas ESG deixem de ser iniciativas isoladas e se tornem parte do DNA das organizações brasileiras.”

Fortalecimento do Ecossistema de Inovação Sustentável

O Brasil está testemunhando o crescimento de um vibrante ecossistema de startups e empresas de tecnologia focadas em soluções para desafios ambientais e sociais. Segundo o Mapa de Impacto da Pipe.Social 2023, o número de negócios de impacto no Brasil cresceu 26% entre 2021 e 2023, com destaque para soluções em energia renovável, gestão de resíduos e tecnologias verdes.
 
“Estamos vendo um boom de empreendedorismo verde no Brasil”, comenta Ricardo Mastroti, diretor da Associação Brasileira de Startups. “A COP-30 está atraindo investidores e talentos para o setor, criando um círculo virtuoso de inovação sustentável.”

Posicionamento Internacional do Brasil

A realização da COP-30 em Belém representa uma oportunidade única para o Brasil reposicionar sua imagem internacional em temas ambientais e de sustentabilidade. Empresas brasileiras que se destacarem durante o evento poderão ganhar visibilidade global e acesso a novos mercados e parceiros.
 
“O Brasil tem a chance de se firmar como líder global em economia verde”, afirma Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente e co-presidente do Painel Internacional de Recursos Naturais da ONU. “A COP-30 pode marcar o início de uma nova era para o país, onde nossa biodiversidade e potencial de energia renovável se tornam vantagens competitivas no cenário internacional.”

Conclusão: Um Momento Decisivo para o ESG no Brasil

A COP-30 em Belém representa muito mais que um evento diplomático internacional – é um momento decisivo para a agenda ESG no Brasil. A conferência está funcionando como um poderoso acelerador de transformações que já estavam em curso, mas que agora ganham urgência, visibilidade e escala.
 
Para empresas brasileiras, a mensagem é clara: a janela de oportunidade para fortalecer práticas ESG antes da conferência está se fechando rapidamente. Aquelas que conseguirem demonstrar compromissos autênticos e resultados mensuráveis estarão melhor posicionadas não apenas durante o evento, mas no cenário competitivo que se desenha para o futuro.
 
Como destacamos em nosso artigo sobre Inovação: A Chave para o Diferencial Competitivo da Sua Empresa, as organizações que se adaptam e evoluem constantemente são as que prosperam em ambientes de mudança. A COP-30 está catalisando uma convergência histórica entre pressões regulatórias, expectativas de mercado e consciência social, criando um momento único para que o Brasil transforme seus desafios ambientais e sociais em oportunidades de liderança global.
 
O legado da conferência para a agenda ESG brasileira dependerá da capacidade das empresas, do governo e da sociedade civil de transformar a atenção momentânea em mudanças estruturais e duradouras. O caminho até novembro de 2025 será intenso, mas as transformações que estão sendo aceleradas têm o potencial de redefinir o papel do Brasil na economia global do século XXI.